sábado, 11 de dezembro de 2010

em busca de oblivion

Ela estava na casa do Conrado, com ele, claro, quando resolveu sair para comprar algo ali por perto mesmo. Caminhava tranquilamente, até que, passando por uma esquina, viu uma moça sendo assaltada. Com medo, mudou de direção e foi para o outro caminho. Era uma bifurcação. 
Pegou o celular para ligar para a polícia, porém teve a sensação de que estava sendo perseguida. Guardou o aparelho e continuou  andando. Alguns instantes depois o assaltante a abordou. Ela entregou o aparelho dizendo que era a única coisa que tinha para dar (ele já tinha visto, não havia como negar) e foi embora assustada.
Ficou em estado de choque. Parou em uma lanchonete, passando um pouco mal. Desnorteada, precisou pedir informação de como fazia para chegar a casa de Conrado. Com a confusão acabou se perdendo. As pessoas no local perceberam que tinha ocorrido algo, perguntaram, ofereceram ajuda. Ela respondeu, mas por alguma razão não quis dizer o que lhe tinham roubado. Quis omitir o que haviam levado dela.
Tentou falar com Conrado de várias formas, mas ele não atendia. Voltou para a rua e pegou um táxi. 
Ela se sentia totalmente perdida, mas ao mesmo tempo reconhecia o local, o que tornava tudo ainda mais desesperador. 
O motorista rodava, rodava e não ia a lugar nenhum. A irritação foi tomando conta e a fez sair do carro. Continuou o caminho a pé. Caminhava sem saber para que lado ir, quando viu os dois bandidos (o que assaltou a moça e o que a assaltou). Tentou se esconder, mas num rompante, acabou indo atrás deles. Era inaceitável que eles estivessem ali com aquela pose e cara lavada toda, arrumados, vivendo, divertindo-se sem nenhum tipo de culpa e arrependimento, depois do que fizeram, enquanto ela estava ali, sozinha, perdida, nem um pouco animada e com a sensação horrorosa de quando algo nos é tirado abruptamente. 
Desistiu do ódio. Foi atrás de outro táxi, que era o melhor que fazia. Não valia a pena perder tempo com quem não merecia. 
No que ela entra no táxi, Conrado liga, ela havia esquecido que, por acaso, estava com dois aparelhos celulares naquele dia. Ele começou a falar, dizendo que tinha ouvido o recado e percebido seu desespero, mas que a Joana tinha acabado de chegar lá com  filho deles, que estava com febre, e ele precisava cuidar da criança. Ela, até então, não tinha conseguido abrir a boca para contar o acontecido, pois ele não parava de falar. Até que, finalmente, disse para ela ir até a casa dele, pois Joana já tinha ido embora e não voltaria mais naquele dia. 
(Tudo que era dela estava lá, de alguma forma precisaria ir até a casa de Conrado para buscar seus pertences.)
Em uma brecha, conseguiu, enfim, começar a falar. Ela não queria disputar a atenção com o filho dele. Não era justo, a criança estava doente. Ele disse que sabia que ela diria isso (ele sabia enxergá-la até de longe) e que não era para ela se preocupar. 
Ela só iria se ele a deixasse ajudá-lo, pois ela não se incomodaria de ficar com eles dois, cuidar do bebê, mas teve como resposta certa resistência a proposta. Conrado achava melhor não, pois se Joana ficasse sabendo não iria gostar.
Ela ainda estava dentro do táxi. E, novamente, sem conseguir chegar até casa de Conrado – inacreditável ninguém saber o caminho – quando, de repente, entra uma pessoa desconhecida no carro. Um garoto totalmente bêbado. 
Diante do circo aramado, achou mais fácil deixar as coisas na casa do Conrado. Já tinham lhe tirado o celular, ao menos a bolsa não estaria com ela por "escolha" própria.
Quando menos esperava, Conrado bate na janela do táxi e entra. Ela, com olhar de interrogação, não precisou nem perguntar. Ele foi logo explicando que havia conseguido um tempinho para ficar com ela, mas que tinha esquecido a mochila.
Ela ficou um pouco irritada, não era algo de valor material ou sem o qual não poderia viver, mas era dela, onde estavam guardadas coisas pessoais, íntimas. Coisas que deveriam estar com ela e com mais ninguém.  
Apesar de tudo, achou melhor abstrair. Conrado estava ali. Bastava. Mesmo sem seus pertences, num táxi que rodava sem rumo, ficou muito feliz com a presença dele. Tê-lo por perto era um alívio.
No entanto, nada a fazia esquecer que continuava perdida...